domingo, 19 de junho de 2011

Entrevista a Carlos Vitorino, treinador do Estrela de Vendas Novas



O Estrela de Vendas Novas chegou ao fim do campeonato em primeiro lugar. Objectivos alcançados?
O Estrela fez um campeonato brilhante. Desde logo porque subiu de divisão, alcançou o maior objectivo de todas as equipas. Depois, subimos com a maior diferença de pontos que alguma vez houve para o segundo classificado, foram 10 pontos. Fomos a terceira melhor equipa a nível nacional na capacidade de finalização, apenas ficando atrás do FC Porto do Cinfães, mas este fez mais um jogo do que nós. Fomos uma equipa com um orçamento dos mais baixos da III Divisão Série F mas que cumpriu com toda a gente, voltou a dignificar a terra e o futebol alentejano, a chamar a população, com muitos jogadores de formação, o que se pode dizer? Foi um trabalho extraordinário.

Era expectável, à partida, que as coisas corressem desta forma?
Quando fazemos uma equipa de futebol temos de o fazer com realismo. A gente olha sempre muito para os orçamentos embora saiba que o dinheiro não conquista tudo, ajuda.

E motiva muito?
Ajuda. Se temos dois jogadores, um que custa 700 euros e outro que custa 350 euros, alguma diferença terá de existir. Nós não tínhamos essa capacidade [financeira], até tivemos alguma dificuldade em construir o plantel … houve alguns falhanços. Nas primeiras 7 ou 8 jornadas fomos fazendo algumas experiências com jogadores que eram apostas nossas.

Alguns nem acabaram a época.
Houve 4 ou 5 mudanças. Lembro-me que em Moura perdemos 5/2 e passado pouco tempo 4 jogadores saíram do plantel porque não tinham a mentalidade da equipa. Mas na realidade, eu não me via a voltar [ao Estrela de Vendas Novas] para me manter na III Divisão, tendo sempre fazer equipas nas quais acredito, acredito que posso fazer algo mais do que o objectivo proposto. Recordo-me de quando treinava os escalões de formação do Estrela e vínhamos competir com equipas de Évora, claramente superiores, havia sempre a tentativa de preencher os espaços e trabalhar aqueles jogadores para que conseguíssemos vencer ou, pelo menos, equilibrar as equipas. Sempre trabalhei dessa forma.

Depois desse início, o Estrela saltou para os primeiros lugares.
Quando a equipa chega a um dos seis primeiros lugares vi que iríamos andar por ali. Empatámos na Cova da Piedade, esse jogo foi péssimo, mas depois surgem várias vitórias e entramos numa segunda volta em que a gente só perde no campo do União de Montemor. Esta equipa tinha dois problemas: nem podia existir muita carga emocional na bancada, como em Montemor, nem podia cair no facilitismo, como sucedeu na Cova da Piedade ou em casa com o Costa da Caparica.

É falta de motivação dos jogadores?
Não, não é falta de motivação. Se nos distrairmos, eles ou se julgam os melhores ou ficam com medo de alterar o rumo das coisas. É assim nos jogadores como na juventude de hoje em dia: não lhe pudemos dar tudo nem meter medo das coisas. Temos de alertar, fazer ver que podem cair de um momento para o outro mas eles têm de respeitar toda a gente. O respeito é um processo de disciplina. Foi uma época brilhante. Na realidade não estávamos a pensar subir de divisão mas sempre acreditei que aquele grupo de jogadores, se fosse encaminhado para o sítio certo, poderia levar a equipa a subir de divisão.

O jogo com o Rio Ave para a Taça de Portugal foi um prémio amargo, em virtude da derrota?
Quando dou oportunidade a um jogador é porque ele a merece e acho que, no fundo, os jogadores que saíram foram indivíduos extraordinários. Mas a equipa do Estrela de Vendas Novas nesse jogo ainda tinha os jogadores que depois saíram porque não se enquadraram na mentalidade que eu pretendia e o grupo necessitava. Hoje, mesmo com o Rio Ave mais forte, poderíamos fazer um pouco mais.

Qual o futuro do Carlos Vitorino?
“Tive duas ou três abordagens a perguntar qual era a minha situação e tive um convite que não me motivou. Gostava de continuar a treinar mas vou ser sincero: Gosto muito do Estrela, gosto muito da minha terra mas tenho lá a minha actividade profissional e a minha família e isso por vezes não é muito benéfico”.

Registo | Diana FM