Em 18 de Abril de 1913, realizou-se
uma reunião numa das salas do 2.° andar da Sociedade Harmonia Eborense, vinte e tantos sócios do Club
Sportivo (que já datava) em organização e sem
nome ainda próprio, a fim de assentar as melhores bases para a sua fundação.
Presidiu o sr. dr. Felício Caeiro,
secretariado pelos srs. Alferes Artur Matias e A. Correia. Depois de se ter
apreciado as resoluções tomadas na última reunião, foi apresentada e discutida uma proposta dos
srs. A. Carreia e J. d'Abreu Calhamar,
ficando assente ficar o club com o nome de Ginásio
Clube Português Eborense, praticando e desenvolvendo ali todos os ramos do desporto, conforme o permitir a situação
financeira.
Finalmente procedeu-se à eleição da
direcção a qual ficou composta pelos seguintes cidadãos:
- Srs. dr. Felício Caeiro, tenente Barbudo, dr. Lindolfe
Bravo, J. d'Abreu Calhamar, A. A.
Calhamar, Cabeça Ramos e o professor do Liceu Melo., ficando a direcção com
plenos poderes para agregar a si, apenas como consultivo todos os peritos em
desporto.
Ao entrar a sessão o Ex.mo presidente profere
um breve discurso, dizendo ter aderido com entusiasmo à ideia da fundação de um
Ginásio Club em Évora, não só por ter
sido desde rapaz, amante do desporto, como também por saber que nesse clube não
poderia dar entrada quaisquer vislumbres políticos ou partidários.
Assim, continua achando-se perfeitamente à vontade
naquele meio, e tem a satisfação de comunicar à Assembleia que apesar de o novo
Ginásio contar em seu seio poucos sócios relativamente no engrandecimento que o
mesmo deve ter, todavia, poucos clubes se tem fundado com um número elevado
deles. Desta direcção devem sair elaborados os estatutos.
A sessão encerrou pelas 23 e meia horas.
Porém, não ficou com o primitivo nome (Club Sportivo), nem tão pouco sob a
designação que optara, mas sim a de Ateneu Desportivo Eborense, pelo qual
passou a designar-se.
Em 1 de Dezembro de 1913, solenemente foi inaugurada a
sua sede, com um espectáculo desportivo, seguido duma comédia — «Quem desdenha
. . .», de Pinheiro Chagas, no Teatro Garcia de Resende, a fim de angariar
fundos para o nóvel clube, que, apesar de seis meses de existência, contava já
cerca de quatrocentos associados.
Neste sarau de arte, tomaram parte os apreciados
amadores, — D. Alice Ribeiro, António Paquete, Valentim Júnior e outros. A
orquestra compunha-se de 20 executantes, sob a regência do distinto artista sr.
Martins da Fonte, esperando-se ainda que viessem elementos da capital mais
alguns reforços, entre eles o exímio violinista Carlos de Araújo Júnior.
Tinha por Comissão Instaladora os seguintes senhores: dr.
Felício Caeiro, Manuel Monte, dr. Bravo, António Correia, Cabeça Ramos e Melo.
Pelas 12 horas do dia 7 de Dezembro de 1913, em sessão solene, é inaugurada a
sede do Ateneu Desportivo Eborense, tendo o dr. Felício Caeiro feito o discurso
de abertura e festa desportiva ao ar livre.
As salas do Ateneu, encontravam-se artisticamente
ornamentadas em estilo alegórico aos diversos ramos de sport, como seja:
Ginástica, Esgrima, Caça, Tauromaquia, Sports Atléticos, Patinagem, etc.
O velho palácio das Mercês, onde outrora fôra o Convento
das Mercês, vestia as suas melhores galas. A extinta Praça de Touros das
Mercês, sofreu uma completa transformação, para comportar a enorme multidão,
que havia de assistir à festa sportiva. Abrilhantou a festa a Banda da Casa
Pia.
O Ateneu dispunha então dos seguintes atletas: António
Calhamar e Augusto Cabeça Ramos, no Jogo do Pau; Ismael Jorge, em Alteres;
Arnaldo da Silveira, Matos Saraiva e António Cachapa, em Barra Fixa; dr.
Lindolf Bravo e Azinhais Mendes, no assalto de Sabre; António Calhamar e
Herculano Ramalho, em Paralelas.
Em Abril de 1914, o Ateneu adquiriu um campo de jogos
(actual Estádio do Lusitano Ginásio Clube), que tencionava vedar, mas que não
chegou a fazê-lo.
Era pertença da Ex.ma Senhora D. Inácia
Barahona., que mais uma vez mostrou o seu grande amor pela sua terra,
coadjuvando com o seu valioso óbulo em tão útil obra.
A 7 de Maio de 1915, em sessão da Câmara Municipal, foi
apreciado um ofício da Direcção do Ateneu para a cedência do campo de Lawn
Ténis, no Passeio Público (Mata), até ao fim do ano, sendo atendido na sua
pretensão:
« ...Esta bem orientada
colectividade fez nova escritura de arrendamento, por 15 anos, da parte do
edifício do, extinto Convento das Mercês, onde está instalado, e em Assembleia Geral
de 17 de Março de 1915, aprovou a construção dum teatro-circo na antiga Praça
das Mercês.
A importante obra é
feita por cota entre os sãcios,alguns dos quais receberam com tanto entusiasmo
a iniciativa da .direcção, que antes mesmo da proposta ser apresentada à
Assembleia, já tinham feito inscrições que atingiu metade da importância orçada
para a obra. É de crer, pois, que esta nova casa de espectáculos, há tanto
tempo desejada, ainda possa funcionar próximo em Julho como se diz».
(Do «Noticias de Évora», n.° 4 258, de 19-3-915).
Em fins de Janeiro de 1917, realizou-se uma Assembleia
Geral para eleições de novos Corpos Gerentes, ficando assim constituída:
ASSEMBLEIA GERAL
(EFECTIVOS)
Presidente — Berardo Martins Andarinho; Secretários — José
Maria Correia e Manuel Tomás de Sousa.
(SUPLENTES)
Presidente — José Celestino Formosinho; Secretários —
Teimo Boleto e Rangel de Campos Nery.
CONSELHO TÉCNICO
Fernando Tamagnini d'Abreu e Silva, dr. Manuel Gomes
Fradinho, José de Sousa e Melo, António Simões Paquete, Joaquim Francisca da
Silva, dr. Armando Augusto Fernandes Gião, dr. Máximo Homem de Campos Rodrigues,
Ismael Mário Jorge, João Maia, dr. Manuel Lopes Marçal Júnior, António Lobo de
Abreu, Sebastião de Melo da Mota Cerveira, João Maria Martins da Fonte, Adriana
Augusto Murteira e José Francisco de Sousa Gomes.
COMISSÃO REVISORA DE CONTAS
Ambrósia de Brito Vaz Coelho, Gabriel Victor d'Oliveira
Mendes e Gilberto Carreia Alves.
DIRECÇÃO
Dr, Felício Caeiro, Armando C. Duarte Melo, António
Alberto Correia, Manuel António Monte, Augusto Cabeça Ramos, José de Matos
Fernandes e Joaquim A. de Abreu Calhamar.
SUBSTITUTOS
António Valentim Lourenço Júnior, José Monteiro Serra e
António M. Saraiva.
O Ateneu lutou logo
de início com dificuldades de toda a ordem, principalmente monetárias, para o
empreendimento de vulto que se propunha realizar, como depois pela vida fora,
mormente quando lhe foi imposto o cruel dilema do mandado de despejo, pelo
injusto senhorio.
«Isto é, o Ateneu, cumpriu ao mesmo tempo a obrigação brutal
da lei e o dever sagrado de humanidade que lhe assistia, em tal caso, da mesma
maneira que qualquer tem o dever imperioso de receber e albergar, sob o seu
tecto, o miserando andrajoso que se livrar da procela bate à sua porta.
Pois bem. Nestas circunstâncias, o que faz o senhorio?
Tenta judicialmente escorraçar o Ateneu da sua casa, alegando a falta de
cumprimento da dita prescrição do contrato.
Justiça se fará, os tribunais resolverão e o Ateneu não
sairá, se alguma alta influência política não se mover iludindo a justiça! ...
Neste ponto não ficará prejudicado. O Ateneu há-de ser
grande, há-de realizar a sua missão, através de todas as vicissitudes por que o
façam passar, há-de ser grande e. realizar a sua missão, para bem da Pátria e
da Humanidade, porque à sua frente estão almas cheias de fé, de entusiasmo e
amor, o que basta para que tenham força criadora, profícua e progressiva.
Levará tempo mas vencerá! A ignorância não pode ditar
leis nem impôr o caminho a seguir.
Esse senhorio, se queria realizar um bom negócio, não
tinha nenhum outro meio de que deitar mão, leal ao menos? Tinha e fácil.
Era arranjar outra casa ao Ateneu, de fácil adaptação
para este e tudo estava arranjado.
O Ateneu saía e assim o senhorio tinha as necessidades da
sua vida aplanadas.
Porém, assim ... só em Março de 1929! Saiba-o toda a
gente para que ao Ateneu não se imputem irredutibilidades prejudiciais a
outrém, o que era algo desumano ...
Se esta questão trouxemos ao domínio público, é a par
d'um desabafo de quem se sente revoltado, a convicção que temos de que o
público necessita interessar-se pelas coisas que lhe pertencem, e o Ateneu vive
para o bem dos mesmos que o desprezam e anavalham, vive como um elemento
importante, na formidável obra de redenção, de regeneração e progresso que é
preciso operar nesta Pátria, para que a vejamos linda, forte, digna dos que a
criaram, digna desta luz magnificente que sobre ela cai, metamorfoseando-se em maravilhas
de cor e de perfume!»
M. C.
(Do
«Notícias de Évora», de 2-8 919).
Adaptado de
"Subsídios para a História do Futebol em Évora" de Gil do Monte